Morro
do Cabuçu, na Serra da Capoeira Grande e pequenas concentrações
na Serra de Inhoaíba. No maciço da Pedra Branca predominam
granitos nos plutônicos, do ordoviciano (Pós Cambriano),
que aparecem em todo a sua parte central e sul, a leste e nordeste,
gnaides de idade não de quanto ao saibro, existem várias
ocorrências em Campo Grande. A areia quartzosa ocorre na Pedra
de Guaratiba, ao passo que a argila em Campo Grande. Falar de arqueologia
em Campo Grande é até certo ponto, falar da arqueologia
do município do Rio de Janeiro. Isso porque a crônica
da pesquisa no município liga-se desde o inicio, ao desenvolvimento
desta mesma pesquisa em Campo Grande. Quando, no século passado,
o Barão de Capanema (1786:81. 9) afirmou dos antigos sambaquis
do Rio de Janeiro já nada mais restava, consumidos que foram
pelas caieiras, estendendo o termo "sambaqui" a todo e
qualquer sitio arqueológico. Somente ao iniciar este século,
é que o assunto foi revivido por Backeuser ao mencionar a
existência de um sambaqui do Piração, considerando-o,
então, como prova do "recuo eustático do mar"
(backeuser - conferencia a 10 de outubro de 1918, na escola politécnica).
Embora esse autor confunda tipologicamente o sitio arqueológico
com terraço marinho de Campo do Engenho de Fora, pode-se
aí ver o renascimento da pesquisa em terras cariocas: Roquete
Pinto (1923-397-9) encarregou-se de estudar os restos humanos encontrados
no Backeuser naquele sitio. Os concheiros da região foram
considerados por sylvio fróes de Abreu como um dos recursos
naturais do antigo Distrito Federal. Ainda da região de Guaratiba
conhecemos o trabalho de bigarella (1952:7-195) que se refere aos
depósitos conchiferos do lugar. Ocorre realmente uma considerável
ampliação da nossa idéia, sobre a potencialidade
arqueológica da região com os trabalhos do Dr. Sales
Cunha (1963) que ali realizou inúmeros sítios arqueológicos,
considerados, ainda, genericamente por ele como sambaquis. Campo
Grande mantém a primazia em números de sítios
conhecidos. Temos que considerar também na região
de Campo Grande a sua vizinhança, inclusive a praia de Sernambetiba,
onde encontramos pelo menos, um sítio arqueológico
(Gurrupira -G-5). Existem possibilidades de existência de
sítios nos extensos campos de Santa Cruz, havendo mesmo uma
planificação do levantamento arqueológico da
região, pelo Instituto de Arqueologia Brasileira. Embora
anteriormente houvesse confusão na nomenclatura arqueológica,
desde a sua padronização, já não se
justifica denominarmos todos os sítios de Campo Grande, como
sambaquis. Sambaqui (vide Chis de 1964) é sítio arqueológico
onde ocorre o predomínio de material malacologico (isto é:
conchas, mariscos, caramujos, etc.) Pelas mesmas pesquisas conhecemos
ali, um verdadeiro sambaqui, o GB-9 de Araçatuba, parcialmente
destruídos, na margem esquerda do Rio São João.
Os demais sítios que conhecemos na região, ocorre
material conchífero, este é em escala sempre inferior
àquela dos demais restos. Os sítios são normalmente
de acampamento quando as camadas ocupacionais são pouco profundas,
como o GB-1 (Telégrafo), GB-2 (Cerâmico), GB-4 (Capãozinho)
- (I) - ou habitação com claras evidências de
permanência demorada, como o GB-3 (do Gentil). Os sítios
mencionados localizam-se na região do "apicum",
isto é, na planície inundável que se estende
entre a baia de Sepetiba e as montanhas do interior e que, em certo
trecho é limitada pela estrada Matriz. Ali, proximidades
dos rios Portinho, Piracão e vala de Rumo, nos pequenos tesos
naturais que se espalham como ilhas cobertas de vegetação
típica, localizam-se os sítios arqueológicos.
A pesquisa sistemática da região, obedecendo a um
programa geral de trabalho, objetivando determinados fins, iniciou-se
ali, em 1964/1965. Mais ou menos paralelamente duas equipes trabalharam
na região, uma do Museu Nacional, escavou o sítio
do Telégrafo (GB-1), outra do Programa Nacional de Pesquisa
Arqueológica, obedecendo ao seu método trabalho, efetuou
a prospecção em quatro sítios locais (GB-1,
GB-2, GB-3, GB-4) abrindo oito cortes estratográficos e coletando
aproximadamente 3.000 cacos cerâmicos. Das pesquisas efetuadas
na região, durante o ano do Programa Nacional de Pesquisas
Arqueológica, 1965/1966, resultou a determinação
da Fase Guaratiba com cerâmica Tupiguarani. Além da
Fase Guaratiba, ainda no primeiro ano de pesquisas do Pronapa, foi
estabelecidas a Fase Sernambetiba (Tupiguarani) e a Fase Una, esta
com sítio exclusivamente no antigo estado do Rio. Foi também
estabelecida a Fase Itaipu, pré-cerâmica, com farto
material elétrico. A tradição Tupiguarani estabelecida
durante o II Seminário do Pronapa, em Belém do Pará
(1968) pode ter ou não com grupos Tupi ou Guarani da etno-história.
A Fase Guaratiba se enquadra, ainda na sub-tradição
corrugada. O material cerâmico é variado, com decoração
pintada (engobio branco e suas variantes) e plásticas (sobretudo
o corrugado, ungulado, escovado, etc). As forças predominantes
são as tigelas de paredes, redondas e os vasos de paredes
inclinados para fora. Formas carenadas e cambadas são ainda
encontradas. (dias 1967: 21/23). As bocas são redondas ou
elíticas correndo em menor escala as retangulares de ângulos
mortos. Temos para a fase, duas detações estabelecidas
pelo C-14. A primeira delas coloca o nível de ocupação
25/40 do corte estratográfico cinco do sítio de Gentio,
no século XII da nossa era e a segunda, mais antiga, coloca
o nível base do sítio do Engenho Velho (GB-6 governador)
no século X da era cristã (detalhações
do Smithsonian Instituition, nº 433 e 434). O material lítico
desta fase é relativamente pobre, com algumas palavras usadas
como percutores, quebra côcos e poucas lascas sem retoques.
Embora conhecendo relativamente bem a arqueologia da região,
dado o grande nº de sítios ainda existentes é
possível que muito venha ser futuramente revelado, com todas
escavações conduzidas. O problema da adaptação
da cultura ao meio ambiente, uma das metas da arqueologia atual,
é ali particularmente interessante, dado a configuração
peculiar da região do apicum, onde subsiste a maioria dos
sítios arqueológicos. Muito podemos saber quando a
realização dessas pesquisas, que se tornam cada vez
mais necessárias e urgentes, pelo avanço da urbanização.
A incumbência dada ao Patrimônio Histórico, pela
3924/1961, é de zelar pela incolumidade dos sítios,
é uma tarefa extremamente pesada, razão pela qual,
se torna tão necessário o conhecimento do valor e
da importância dos sítios ainda existentes. Sua preservação
para o futuro é algo que se impõe, sendo verdadeiro
dever do cidadão de Campo Grande impedir a destruição,
internacional ou não, desses insubstituíveis marcos
da pré-história brasileira.
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