O Portal de Campo Grande lança mais uma super coluna, desta vez sobre a Cultura do Hip Hop no Brasil.
Esta coluna está sendo escrita pelo DJ TR

Saiba mais sobre o DJ TR:

- Militante do movimento hip-hop há 14 anos
- Coordenador da ATCON (Associação Atitude Consciente)
- Membro da Zulu Nation Brasil
- Palestrante, escritor e colunista
Neurótico + Frenético = Vinimax
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DJ (Disc Jóquei)
MC (Mestre de Cerimonias ou Controlador de Microfones)
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Motirô
 
NelBoy Dastha Burtha
Um Griot Suburbano dos Tempos Atuais...

Pouco antes da queda do sistema comunista imposto na União Soviética, Leste europeu e alguns países da Ásia e África, entre os quais, a Angola, país que servia de campo de batalha para os interesses bárbaros da guerra fria, marcada por americanos e soviéticos, onde prevalecia todo um sistema ditatorial, que privava as pessoas dos direitos de ir e vir e a liberdade de expressão, surge na década de 90, um jovem de idéias revolucionárias, que não se calou às injustiças ali impostas. Utilizando-se da tradição oral de um griot (contadores de histórias, vistos nas tribos africanas como sacerdotes espirituais, que tinham como dever preservar as histórias e tradições daquele respectivo povo, para que a informação fosse passada de geração à geração), como que refazendo uma releitura moderna de antigos costumes, ele procura visibilidade através da música rap. Seu nome, Nelboy Dastha Burtha. Nelboy passou a ter seus primeiros contatos com o hip-hop através do breakin’ (1986). Reconhecido pela imprensa do seu país, em 1993, como o precursor da cultura hip-hop angolana, em 1994 NelBoy, funda o primeiro programa de rap pela Rádio Nacional de Angola e depois Rap Cidade, pela Rádio Luanda. Mudando-se para o Rio de Janeiro em 1996, (Zona Norte), encontrando hospitalidade na “ATCON (Associação Atitude Consciente)”, onde chegou a participar de alguns trabalhos de relevância social, como a palestra na Universidade Castelo Branco sobre a cultura. Mas sua grande aparição dentro do hip-hop carioca, foi marcada depois de participar da primeira grande batalha de freestyle promovida pelo rapper americano Coolio, onde ele saiu em primeiro lugar derrubando mais de cerca de 20 mcs, atualmente o rapper apresenta o single “Rolleta Ruzza” e encontra-se em gravação do seu primeiro trabalho fonográfico...
TR.

Portal Campo Grande- Seu nome artístico possui algum significado?
NelBoy- “N”, vem de negro; “EL”, de elemento, “B”, banto; “O”, original e “Y”, yaneka (uma das etnias do povo banto). “Das”, quer dizer ser afrodinâmico (invertido); “Burtha”, eu utilizei do inglês da palavra e quer dizer peso, grave, algo pesado, que tem a ver com uma das minha tonalidades vocais. Então, eu juntei vários elementos que fazem parte da minha vida, de onde venho e como sou.

PCG- Como está o hip-hop angolano hoje?
NB- muitas pessoas estão fazendo discos. É difícil para os outros elementos terem a mesma visibilidade que o rap. Todos estamos à procura de melhor qualidade, procurando focar em problemas sociais existentes no pais, sem esquecer do entretenimento, já que o nosso povo viveu muito tempo de guerra e precisa, então, desse entretenimento para aliviar as feridas criadas pela guerra.

PCG- Ouvi algumas de suas faixas e fiquei surpreso com sua riqueza musical. Quem produz suas instrumentais?
NB- eu mesmo produzo os meus instrumentais, e conto com a colaboração e assistência do multinstrumentista André gomes , meu parceiro.

PCG- Djs como Kall (Transamerica), “A” (Viaduto de Madureira), Boneco e Juan (Six), Black (Niggas) e Claysoul (Viaduto de Campo Grande) estão executando dois de seus remix nas pistas e rádios, e com grande aceitação popular. Como você vê isso?
NB- fiquei surpreso , com a recepção destes remixes, no qual peguei a música Magic Stick, e editei a minha voz com à do 50cent e a Lil Kim , e da música Excuse Me Miss , fiz o mesmo coloquei a minha voz , com a do Jay –Z e do Pharrel , onde cantei em português e inglês. Baseado no tema de cada música estes e outros djs, logo que ouviram , começaram a tocar.

PCG- Quais foram as suas influências?
NB- Elias Diakimuezu ,Voto Gonçalves, Bonga , e outros artistas da música típica de Angola; Curtis Blow, Afrika Bambaataa, Public Enemy, Big Daddy Kane, A Tribe Called Quest e De La Soul, já são de minha influência direta no hip-hop.

PCG- Como você vê o hip-hop no Brasil?
NB- como sinônimo de orgulho! Porque mantém a mesma postura e autoconfiança de anos. Não se deixou influenciar pelos órgãos externos.

PCG- Como você classifica o seu estilo?
NB- eu o defino com a expressão “bantuvokalé”: bantu, por ser do povo bantu – meu povo! – vokalé, estilizei da palavra vocalização – que representa a minha forma peculiar de vocalizar diferentes ângulos. No meu estilo, me explano por várias manifestações da expressão musical negra, como o jazz, rumba, semba (estilo típico de música angolana, que influenciou o nascimento do samba brasileiro), e os uso, não no seu formato original, mas na sua parte filosófica, onde acoplo em minha musicalidade. Na parte literária, não limito-me, utilizo toda a ideologia política e social , que é necessário se ter no hip-hop .

PCG- E o rap na mídia?
NB- É necessário fazermos o uso da mídia, porque o nosso povo usa ela. Nós temos que estar aonde está o nosso povo. Podemos muito bem criar um discurso adaptado sem nos vender-mos para o nosso povo se alimentar do positivismo político social do nosso trabalho. Nós não podemos nos ver à parte da mídia, porque se isso acontecer, ela vai criar os seus próprios artistas, rappers falsos, que passarão a nossa frente e usarão da nossa linguagem para ganhar o dinheiro que poderia beneficiar as nossas comunidades,

PCG- Que conselho você daria àquele que está engajando-se no hip-hop?
NB- ser original! Ser real consigo mesmo, antes de querer escrever algo. Isso é até mais pros rappers, porque, infelizmente, os mcs é que têm deturpado muitos dos conceitos que nós temos dentro da cultura hip-hop. Seja verdadeiro com você mesmo e depois passe essa verdade ao povo, àquele que vai ouvir o que você tem pra dizer. Porque, se você não fizer pra ele, do que adianta você estar fazendo rap? Você tem que retratar aquilo que o povo sente. A cultura hip-hop é uma expressão pra dar voz àqueles que não têm voz e o rapper tem um papel de muita responsabilidade nisso. Não adianta tentar fugir do punho político, senão nós seriamos iguais aos outros estilos musicais, e é isso que nos diferencia dos demais.

• As faixas “Rolleta Ruzza”, e o remix de “Magic Stick e Excuse Me Miss”, encontram-se disponíveis para audição no site http:// bounce.to/rapmania

Saiba mais sobre Nelboy:

Nelboy@zipmail.com.br

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