Pouco antes da queda do sistema comunista imposto na União
Soviética, Leste europeu e alguns países da Ásia
e África, entre os quais, a Angola, país que servia
de campo de batalha para os interesses bárbaros da guerra
fria, marcada por americanos e soviéticos, onde prevalecia
todo um sistema ditatorial, que privava as pessoas dos direitos
de ir e vir e a liberdade de expressão, surge na década
de 90, um jovem de idéias revolucionárias, que não
se calou às injustiças ali impostas. Utilizando-se
da tradição oral de um griot (contadores de histórias,
vistos nas tribos africanas como sacerdotes espirituais, que tinham
como dever preservar as histórias e tradições
daquele respectivo povo, para que a informação fosse
passada de geração à geração),
como que refazendo uma releitura moderna de antigos costumes, ele
procura visibilidade através da música rap. Seu nome,
Nelboy Dastha Burtha. Nelboy passou a ter seus primeiros contatos
com o hip-hop através do breakin’ (1986). Reconhecido
pela imprensa do seu país, em 1993, como o precursor da cultura
hip-hop angolana, em 1994 NelBoy, funda o primeiro programa de rap
pela Rádio Nacional de Angola e depois Rap Cidade, pela Rádio
Luanda. Mudando-se para o Rio de Janeiro em 1996, (Zona Norte),
encontrando hospitalidade na “ATCON (Associação
Atitude Consciente)”, onde chegou a participar de alguns trabalhos
de relevância social, como a palestra na Universidade Castelo
Branco sobre a cultura. Mas sua grande aparição dentro
do hip-hop carioca, foi marcada depois de participar da primeira
grande batalha de freestyle promovida pelo rapper americano Coolio,
onde ele saiu em primeiro lugar derrubando mais de cerca de 20 mcs,
atualmente o rapper apresenta o single “Rolleta Ruzza”
e encontra-se em gravação do seu primeiro trabalho
fonográfico...
TR.
Portal Campo Grande- Seu nome artístico possui algum
significado?
NelBoy- “N”, vem de negro; “EL”,
de elemento, “B”, banto; “O”, original e
“Y”, yaneka (uma das etnias do povo banto). “Das”,
quer dizer ser afrodinâmico (invertido); “Burtha”,
eu utilizei do inglês da palavra e quer dizer peso, grave,
algo pesado, que tem a ver com uma das minha tonalidades vocais.
Então, eu juntei vários elementos que fazem parte
da minha vida, de onde venho e como sou.
PCG-
Como está o hip-hop angolano hoje?
NB- muitas pessoas estão fazendo discos.
É difícil para os outros elementos terem a mesma
visibilidade que o rap. Todos estamos à procura de melhor
qualidade, procurando focar em problemas sociais existentes no
pais, sem esquecer do entretenimento, já que o nosso povo
viveu muito tempo de guerra e precisa, então, desse entretenimento
para aliviar as feridas criadas pela guerra.
PCG-
Ouvi algumas de suas faixas e fiquei surpreso com sua riqueza
musical. Quem produz suas instrumentais?
NB- eu mesmo produzo os meus instrumentais, e
conto com a colaboração e assistência do multinstrumentista
André gomes , meu parceiro.
PCG-
Djs como Kall (Transamerica), “A” (Viaduto de Madureira),
Boneco e Juan (Six), Black (Niggas) e Claysoul (Viaduto de Campo
Grande) estão executando dois de seus remix nas pistas
e rádios, e com grande aceitação popular.
Como você vê isso?
NB- fiquei surpreso , com a recepção
destes remixes, no qual peguei a música Magic Stick, e
editei a minha voz com à do 50cent e a Lil Kim , e da música
Excuse Me Miss , fiz o mesmo coloquei a minha voz , com a do Jay
–Z e do Pharrel , onde cantei em português e inglês.
Baseado no tema de cada música estes e outros djs, logo
que ouviram , começaram a tocar.
PCG-
Quais foram as suas influências?
NB- Elias Diakimuezu ,Voto Gonçalves,
Bonga , e outros artistas da música típica de Angola;
Curtis Blow, Afrika Bambaataa, Public Enemy, Big Daddy Kane, A
Tribe Called Quest e De La Soul, já são de minha
influência direta no hip-hop.
PCG-
Como você vê o hip-hop no Brasil?
NB- como sinônimo de orgulho! Porque mantém
a mesma postura e autoconfiança de anos. Não se
deixou influenciar pelos órgãos externos.
PCG-
Como você classifica o seu estilo?
NB- eu o defino com a expressão “bantuvokalé”:
bantu, por ser do povo bantu – meu povo! – vokalé,
estilizei da palavra vocalização – que representa
a minha forma peculiar de vocalizar diferentes ângulos.
No meu estilo, me explano por várias manifestações
da expressão musical negra, como o jazz, rumba, semba (estilo
típico de música angolana, que influenciou o nascimento
do samba brasileiro), e os uso, não no seu formato original,
mas na sua parte filosófica, onde acoplo em minha musicalidade.
Na parte literária, não limito-me, utilizo toda
a ideologia política e social , que é necessário
se ter no hip-hop .
PCG-
E o rap na mídia?
NB- É necessário fazermos o uso
da mídia, porque o nosso povo usa ela. Nós temos
que estar aonde está o nosso povo. Podemos muito bem criar
um discurso adaptado sem nos vender-mos para o nosso povo se alimentar
do positivismo político social do nosso trabalho. Nós
não podemos nos ver à parte da mídia, porque
se isso acontecer, ela vai criar os seus próprios artistas,
rappers falsos, que passarão a nossa frente e usarão
da nossa linguagem para ganhar o dinheiro que poderia beneficiar
as nossas comunidades,
PCG-
Que conselho você daria àquele que está engajando-se
no hip-hop?
NB- ser original! Ser real consigo mesmo, antes
de querer escrever algo. Isso é até mais pros rappers,
porque, infelizmente, os mcs é que têm deturpado
muitos dos conceitos que nós temos dentro da cultura hip-hop.
Seja verdadeiro com você mesmo e depois passe essa verdade
ao povo, àquele que vai ouvir o que você tem pra
dizer. Porque, se você não fizer pra ele, do que
adianta você estar fazendo rap? Você tem que retratar
aquilo que o povo sente. A cultura hip-hop é uma expressão
pra dar voz àqueles que não têm voz e o rapper
tem um papel de muita responsabilidade nisso. Não adianta
tentar fugir do punho político, senão nós
seriamos iguais aos outros estilos musicais, e é isso que
nos diferencia dos demais.
•
As faixas “Rolleta Ruzza”, e o remix de “Magic
Stick e Excuse Me Miss”, encontram-se disponíveis
para audição no site http:// bounce.to/rapmania
Saiba
mais sobre Nelboy:
Nelboy@zipmail.com.br