O Portal de Campo Grande lança mais uma super coluna, desta vez sobre a Cultura do Hip Hop no Brasil.
Esta coluna está sendo escrita pelo DJ TR

Saiba mais sobre o DJ TR:

- Militante do movimento hip-hop há 14 anos
- Coordenador da ATCON (Associação Atitude Consciente)
- Membro da Zulu Nation Brasil
- Palestrante, escritor e colunista
Thogun
Dadday Kall
DJ Claysoul
DJ Corello
NelBoy Dastha Burtha
Neurótico + Frenético = Vinimax
Urban D
De La Soul
História do Hip Hop
A história da dança hip hop
DJ (Disc Jóquei)
MC (Mestre de Cerimonias ou Controlador de Microfones)
Graffiti
TR abre a boca
Afinal, o quê é Black Music?
Motirô
 
Robson Nascimento
Regendo a trilha sonora da salvação...

Ao contrário do que muitos imaginam no Brasil a respeito de gospel music, além deste ser o pai da black music, é também um pilar de sustentação da fé e do culto dos afro-americanos evangélicos a Deus. Aliás, grandes nomes como James Brown, Aretha Franklin, Ray Charles, Whitney Houston, Mary J. Blige, entre outros ases da música negra, tiveram seu aprendizado nos cultos dominicais das igrejas protestantes negras... Mas como o gospel chegou aqui? Como toda importação cultural vinda dos EUA, entre as quinquilharias sonoras sempre aparece algo interessante: assim foi o gospel music. Todavia, durante a década de 90, com o crescimento do mercado musical evangélico nacional, o termo ‘gospel’, se tornou sinônimo do “ritmo pop”, que nada tem a ver com sua real origem... E como o autêntico não fica encoberto eternamente, em 1997, surge uma movimentação no templo da Igreja Pedra Viva (zona sul paulistana) – onde diga-se de passagem seja talvez a única “igreja cristã brasileira” a celebrar cultos de adoração aos moldes dos afro-americanos – através de um jovem músico que decide dar asas ao seu projeto de louvor: nasce então Robson Nascimento e seu coral Just Singers, hoje na formação de 35 pessoas, dentre estes 4 naipes de vozes, isto sem falar dos músicos... Músico instrumentista, cantor, arranjador, compositor e maestro, Robson, particularmente mantém seu currículo endossado ao lado de artistas importantes como Chitãozinho & Xororó, Daúde, Wanessa Camargo, Simoninha, MV Bill e Fábio Júnior, onde atuou como back vocal sem afetar o projeto Just Singers, que, mesmo que ao seu contragosto, tem sido comparado ao trabalho do maestro americano Kirk Franklin...

O Portal Campo Grande aproveitou sua visita ao Rio, na tarde de autógrafos do CD “Tome a Decisão”, na livraria Godspell (centro), no último dia 28 de outubro do ano passado, para colher com exclusividade os depoimentos de um artista preocupado em difundir a Palavra de Deus através da black music...
TR.

Portal Campo Grande- Como foi este seu primeiro contato com o plano de Deus?
Robson Nascimento- Minha mãe é de berço evangélico, ela veio do interior pra ganhar a vida em São Paulo, e obviamente, ela sem orientação, mas sempre tendo o Espirito Santo de Deus protegendo, se desviou, casou com meu pai, andou um bom tempo longe dos caminhos do Senhor. E, desde pequeninihos a gente ficava bem longe e ela sempre tentando, mesmo que por uma questão de consciência, mandar os filhos pra igreja, mas ela não ia. E nessa fase da adolescência, eu me afastei dos caminhos, até que ela voltou pra Jesus – foi quando ela perdeu tudo. A gente também meio que voltou atrás, só que filho de crente não é crentinho... a salvação, ela é individual...! Até que um dia Deus me chamou, e eu, em 91, me converti de verdade! Já tinha um contato com igreja antes, mas não era um compromisso sério e a partir daí, Deus começou a fazer a obra em minha vida!

PCG- Você trabalhou ao lado de artistas renomados como Simoninha, Fábio Júnior, Daúde... Por estar com estes, houve alguma reprovação por parte da Igreja?
RN- Trabalhar com eles foi maravilhoso! Primeiro porque são pessoas maravilhosas, inclusive quero mandar um abraço pra todos eles, porque foram pessoas que acreditaram no meu trabalho e pagaram por ele... É lógico que isso trouxe uma certa resistência por parte do pessoal das igrejas, porque existe muito preconceito, um preconceito insistente e eu posso dizer que isso é por falta de preparo, pelo medo de não ser um desbravador da fé! Mas nós temos que estar aonde existem trevas! As trevas são vão ser trevas se houve a luz e vice-versa! Então precisa haver esse contato sim, precisa ter gente lá no meio sim trabalhando... porém, não pode se corromper! E aí, eles (a igreja) não entendiam muito isso, simplesmente era mais confortável se eu não estivesse envolvido. Eu corria menos risco, ou a comunidade evangélica corria menos risco... Mas tudo isso me trouxe experiência, não só cristã mas pessoal, um novo relacionamento social, uma visão melhor das coisas, e eu creio que também foi o tempo de Deus! Hoje eu não estou mais com eles. Trabalho somente pra Deus, mas Ele me permitiu estar lá pra angariar algumas experiências pra poder aplicar aonde estou, e divulgar também o nome dEle!

PCG- Se fosse para você atuar no meio secular (não evangélico) novamente, teria alguma objeção da sua parte?
RN- Sem problemas, mas na realidade, o meu objetivo é: fazer um trabalho que seja reconhecido e incorporado no meio secular, porque, quando a gente fala que “nós não somos do mundo”, existe uma contradição no meu modo de ver... Nós estamos no mundo! A gente não tem é que se conformar com ele e vencê-lo! Como? Trabalhando aquilo que Jesus disse pra gente fazer... e eu crio que posso fazer isso no secular. Existe toda uma estratégia de dar uma disfarçada nas mensagens, pra ela poder atingir o meio secular. Acredito que essa mentalidade é muito boa, e decidi falar de Jesus mesmo, falar que o sangue dEle tem poder, que Ele salva – na verdade eu tô tocando a verdade dEle mais povão, mas falando que Ele é o Cara, que tem amor pra dar pra gente, vida eterna... eu não tô falando a linguagem da igreja, porque só ela vai entender, e você sabe como é o povo: ele gosta de letra e arranjo fácil! Então, eu estou sendo direto!

PCG- Porquê a escolha black music no seu trabalho?
RN- Eu ouço black music desde os 6 anos de idade, aquelas coisas da Chic Show (equipe de som São Paulo, similar a Furacão 2000, pioneira dos bailes blacks do estado), e quando eu tinha uns 9, 10 anos – eu não ia à igreja e se eu fosse também, eu fazer mesmo assim – ia pros bailinhos dançar ao som de Gap Band, Kool & The Gang, Marvin Gaye, George Benson, Aretha Framklin, Barry White, Beth White... Então, eu não tive escolha: a minha mãe, como ela era professora de piano clássico, queria que eu escutasse Beethoven, Mozart, Bach... um monte de gente erudita, mas eu queria black! Porquê não MPB pelo menos?! Eu me identificava muito com a black, então a forma de expressar a minha música, foi através da mesma que eu me alimentei a vida toda. Soul music pura! Tá no meu DNA!

PCG- Porquê fazer um “black choir”, se a própria Igreja era fechada a algumas inovações musicais?
RN- Em 91, logo quando eu havia me convertido, eu tava na casa de um amigo da extinta Banda Rara, e ele me mostrou um VHS do Mississipi Mass Choir, comandado pelo Rev. James Moore – um cara que não tinha nem dentes. Eu me lembro que eu tava na sala desse amigo, e comecei a ouvir aquilo e a chorar muito, e eu falei: meu Deus, é isso que eu quero um dia fazer na minha vida! Aí passou, e esqueci... Em meados de 97, voltou a idéia de se montar um coral, era meio que didática, e como eu dava aula de canto, resolvi montar um coral pros meus alunos. Eu falei isso na segunda-feira, e quando foi na quarta, eu já queria desistir porque ia ser um trampo (trabalho árduo), só que nessa quarta, quando eu liguei pra eles pra dizer que não ia mais fazer, eles disseram: agora se vira, porque a gente já falou pra todo mundo que o trabalho ia acontecer... Eu fui na sexta contrariadíssimo, mas eu mal sabia o que Deus tinha planejado pra mim. A partir do momento que comecei a trabalhar com eles, tudo começou a criar forma e Deus a cumprir a promessa dEle e também pra vontade do meu coração, que era montar um coral black! E foi assim que pintou do Just Singers...!

PCG- Houveram influências para formatar o Just Singers?
RN- James Moore! Neguinho fala: ah, é igual o Kirk Franklin! Eu gosto demais do Kirk Franklin, mas eu não tenho nenhuma influência dele. Dizem que eu fico imitando ele, na verdade eu nem conhecia ele! É coisa de negão, tá no sangue! O Hebert Mota, o cara que trouxe o Kirk Franklin pro Brasil é testemunha, ele me conhece muito antes dessa onda de Kirk Franklin e sabe que isso não tem nada a ver apesar das pessoas falarem que eu me espelho nele... Na verdade a minha única fonte de inspiração musical é o Rev. James Moore e eu quero ser igual a ele quando crescer, risos.

PCG- O meio evangélico tem sido mais receptivo ao Just Singers hoje?
RN- Tem! Desde o nosso começo, a idéia de um coral com uma pegada mais black, sempre foi bem aceita. Na verdade faltava era um pouco de abertura de mente... mas a aceitação, ela foi muito legal porque o tipo de música que a gente faz, graças à Deus – não por causa de mim, mas porque Ele é maravilhoso! – é uma música muito acessível a mente das pessoas, é apenas uma questão de acesso, e muitas delas ainda não tinham isso facilmente. Hoje têm mais, devido aos trabalhos das revistas especializadas, das lojas, rádios, dos sites, você, risos.

PCG- Embora seja algo ainda novo para os evangélicos cariocas, porquê a sua vontade de investir com o original gospel no Rio?
RN- Eu vejo o Rio como um seleiro pra gente poder armazenar, mas pra também poder distribuir o soul, o r&b, o hip-hop, porque o pessoal daqui, ele tem essa ginga por natureza, não só por causa da elegria do carioca, mas por sua realidade – a quantidade de negros que têm aqui, é superior a dos outros estados só perdendo talvez pra Bahia. E isso eu digo até por uma questão de Brasil: não existe uma raça preestabelecida tipo “branco ou negro”. O Brasil é negro! O cara pode ser branquinho, mas ele vive num país negro de influências negras, e o Rio é o núcleo disso! Então, se a gente fizer um trabalho legal aqui, meu Deus...! Isso vai alimentar não só o Brasil, mas o mundo inteiro! A minha intenção é usar o Rio como uma grande ferramenta na mão de Deus através da vida da gente pra que as pessoas não só ouçam a black music, mas a Palavra de Deus através da black music.

PCG- Um conselho para quem está ingressando nesta área ainda guetificada...
RN- Primeiro, eu agradeço a Deus por tá sendo um instrumento de encorajamento dessa galera, porque, de repente eles olham o trabalho do Just Singers, do Raiz Coral, do Luo e dizem: dá pra fazer! Outra coisa muito importante: preguem a união entre os grupos! Uma das maiores dificuldades de todos os seguimentos evangélicos, é a união das rádios, a união das igrejas, a união dos grupos musicais diversificados – o raggae que não se une com o rock, que não se une com o funk, que não se une com o hip-hop... e isso dentro da igreja – então, parece que o povo que era pra ser unido, não permanece unido. A gente tem que pregar o contrário e não prega! É lógico que existem estilos e suas diferenças, mas eu tô dizendo numa questão do Corpo de Cristo! Temos que nos unir! Porque esse separatismo, ele acaba que influenciando a não propagação do evangelho. Se você é black, e você chega num lugar aonde só tem rock-and-roll, aprecie o r&r! Vai ser um caminho de duas mãos! Por exemplo: existe uma relação muito forte entre mim e o pessoal do Oficina G3! É parceria! União! Eu não tô pensando na questão musical, mas sim na questão que une a todos nós: Jesus! Pra que eles (as grandes indústrias evangélicas) fiquem envergonhados de ver as ovelhas fazendo a união pelo engrandecimento do nome do Senhor!

Saiba mais:

www.robsonnascimento.com

Sobre black gospel:

Livraria Godspell- Rua 1o de Março, 08 – Centro (RJ)
Fone: (21)2509-4628
E-mail: comercial@bvfilms.com.br
Site: www.bvfilms.com.br

TR             
(Acorda Hip-hop!)