São Paulo, anos 80. Atuando como dj na consagrada equipe
Zimbabwe; passando posteriormente, para a Black Mad, e dando rasantes
por grupos pioneiros como “Sampa Crew, Estilo Selvagem, Negritude
Posse e Geração Rap”, este jovem reuniu elementos
fundamentais para sua formação artística no
hip-hop nacional. Em 1991 converteu-se ao cristianismo, porém,
por não conseguir se distanciar das suas influências
musicais, ingressou na banda de black gospel “Kadoshi”.
Em 1994, ao apresentar uma versão em rap da música
“Ser ou Não Ser” para sua banda, ele certamente
não fez idéia do que estaria preparando para a posteridade
da música cristã: surge assim a primeira letra de
rap gospel nacional gravada em disco! 1997. Após permanecer
dois anos na banda, ele gravou seu primeiro CD solo: “Transformação
(Gospel Records)”, alcançando uma vendagem superior
a 30 mil cópias... À partir de então tornou-se
inevitável o lançamento de outros trabalhos: Efésios
6:12 (que gerou em 99 a marca superior de 100 mil cópias
vendidas), O Peso da Palavra (2001) e Fanático (2002). “DJ
Alpiste” é o seu nome e conscientizar o jovem sobre
a solução em Cristo é o seu negócio.
Hoje, passado mais de uma década de dedicação
a propagação da Palavra de Deus através do
rap, ele está de cara nova, aliás, de proposta nova.
É o álbum “Acústico DJ Alpiste”.
O CD reúne antigos sucessos, e contou com as participações
inusitadas de “E-Beille, Aldo Gouveia (Soul Dreams), Dudu
Borges, Preto Jay (Sexto Sello), Dudu França e Silveira”
– entre outros ases da black gospel brasileira. Em um bate-papo
informal com o Portal Campo Grande, numa de suas rápidas
aparições no Rio de Janeiro, Alpiste demonstrou porque
artistas como “REP, Alternativa C, Tina, Sexto Sello, Ao Cubo,
X Barão, Manuscritos, O Pregador Provérbios X, Perbone,
Pregador Luo”, entre tantos outros, não abrem mão
da opção de cantar um “rap libertário”
com a proposta de dias melhores ao lado Deus...
TR.
Portal
Campo Grande- Todos sabemos da dificuldade do rap nacional de
gravar em um bom estúdio. Tirando a pessoa de Marcelo D2,
você foi o único no hip-hop a gravar um CD em versão
acústica. Como foi essa experiência?
DJ Alpiste- Acho que a dificuldade maior é
você ser o primeiro naquilo que você tá fazendo,
porque você não sabe como vai ser a reação
das pessoas. Graças a Deus, ao longo da minha carreira,
eu tenho tido a oportunidade de ser pioneiro em várias
coisas: no rap gospel; neste CD acústico; o primeiro no
rap gospel a se apresentar fora do país, então,
como eu já tô treinado nessa de ser a cobaia, e tem
dado certo, eu não me preocupo mais com isso. Eu tive um
time de músicos excelentes; tive a referência do
Jay-Z que gravou aquele acústico com o The Roots –
eu já era fã do Jay-Z e pirei como todo mundo –
e não havia ninguém no Brasil que tinha feito isso
no rap ainda. Então a gente teve a idéia de fazer
e foi muito bom, porque eu pude ver algumas músicas do
CD, com os samplers originais, tocados por uma banda e pude fazer
arranjos diferentes pra outras músicas que já estão
lá! A gente teve a liberdade de brincar com isso: pegamos
algumas músicas e fizemos arranjos novos e outras mantivemos
o original pela facilidade do trabalho acústico. Isso surpreendeu
a minha expectativa, porque vai sair um DVD que já tá
pronto (pra sair em no máximo 1 mês). O show ficou
muito bom; gravação perfeita; todas as pessoas envolvidas
na gravação deram o máximo; surpreendeu a
todos inclusive a gravadora, a mim porque tá vendendo muito
(já comentamos na gravadora que vai ser o CD mais vendido
de toda a minha carreira!). Eu tô vivendo um momento muito
bom e a gravação do acústico só veio
acrescentar na minha carreira! E eu só tenho que agradecer
a Deus por esse momento!
PCG-
Você é o pioneiro do rap gospel no Brasil. Houve
ou há ainda algum impedimento por parte da Igreja ao seu
trabalho?
DJA- No começo enfrentei muita resistência
sim, até porque eu fui o primeiro a fazer – as pessoas
não conheciam a minha pessoa: quem é esse cara que
tá chegando agora e fazendo isso? Eu não tinha o
fruto do meu testemunho; eu tinha apenas a minha conversão,
mas eu não tinha nenhum fruto pra mostrar. E quando você
não tem fruto pra mostrar, todo mundo fica com o pé
atrás com você. Quando a sua vida com Deus começa
a andar, dar frutos, as pessoas começam a falar: peraí,
Deus tá com ele (porque elas tão vendo sua transformação)!
E eu fui conquistando a confiança das pessoas ao longo
dos anos. Aquela resistência que eu sofri no começo
(que era muito forte) por parte das igrejas e de alguns pastores
foi caindo por terra, porque hoje todas as igrejas me conhecem;
todos os pastores; não tem um lugar do Brasil que você
vá no meio evangélico que não digam que não
conhecem o DJ Alpiste. E só me tornei popular porque meu
trabalho foi bem aceito. No gospel, ninguém fica popular
por não ser bem aceito. Então, hoje, se existe algum
tipo de resistência ao meu trabalho, não chega até
mim e eu não fico sabendo. Eu só tenho amigos nesse
meio; os pastores me apoiam muito; a minha igreja; as outras denominações;
eu tô fazendo curso pra formação de pastor
também, então eu só tenho frutos pra mostrar.
Quem quer conhecer o DJ Alpiste, é só olhar pros
frutos convertidos; restaurados por Deus, e que hoje estão
na igreja através do meu trabalho.
PCG-
E no meio secular, como o hip-hop tem encarado o seu trabalho?
DJA- O movimento olha o DJ Alpiste como um cara
que não foi tão bem sucedido assim o quanto dj de
festa, mas que à partir do momento em que se converteu,
se tornou um cara bem sucedido. Isso é um ponto positivo
pra mim! Eu só posso dizer pra alguém que eu me
tornei bem sucedido após a minha conversão! É
uma coisa que ninguém pode negar! Todo mundo que tá
no rap até hoje e me conhece, sabe como eu era e como eu
sou hoje. Por mais que as pessoas consigam ver a prosperidade
financeira na minha vida, eles não têm como negar
que isso só se deu depois da minha conversão, ou
seja, Deus tem parte nisso! Em relação a minha carreira
profissional, no começo, muitas pessoas não acreditaram
que aquilo fosse durar e nem eu. Eu já tô no quinto
CD e já tenho mais de 10 anos de estrada, num momento que
você tem hoje o APC XVI, Ao Cubo, Rap Sansation, Manuscritos
e uma infinidade de artistas que tão fazendo um rap gospel
de qualidade – e você olhar pra trás, e ver
que você começou isso lá trás, e você
tá no meio deles e é considerado um dos melhores
por outras pessoas, é um fator a ser notado! Eu só
tenho a agradecer a Deus, porque quando o artista dura e é
respeitado por ambos os lados, é porque coisa boa ele tá
fazendo! Agora, quando ele aparece e dentro de 1 ano some, é
por que é produto de mídia (tanto no meio secular,
quanto que no gospel). Eu tenho inclusive a grande felicidade
de ser uma referência pra muita gente no hip-hop, pessoas
que quando me vêem, e eu jamais imaginei ouvir: você
é referência pra mim na música e no hip-hop!
Pessoas que eu admiro como artista e sou fã me disseram:
eu sou seu fã! E reconhecem a minha estrada!
PCG-
Hoje, notavelmente pode-se ver um número grande de artistas
de rap surgindo no meio gospel. Por acaso isto seria pela visão
de que no gospel existe mais garantia de sucesso que no meio secular?
Como você analisa este fato?
DJA- No gospel, você é muito mais
cobrado. As pessoas não olham só pra música
que você faz, mas pra sua família; pra maneira que
você se comporta; se você dar frutos, não é
uma questão só de talento. Você pode até
ter talento, mas se você não tiver envolvido verdadeiramente
com Deus, a sua vida musical vai por água abaixo... Tem
uma série de fatores que vão dizer se você
vai ser bem sucedido ou não: o primeiro é compromisso
do cara com Deus! O segundo, é se ele é um bom exemplo!
O último é se o cara tem talento! Deus não
tá preocupado se você tem talento, porque ele pode
fazer brotar isso dentro de você. Agora, Deus não
pode te dar uma boa índole, um bom caráter. Ele
não pode te obrigar a fazer uma boa escolha. Isso tudo
depende de cada um! A única coisa que ele te dá
é o talento, as outras coisas você conquista por
si próprio. Se a sua escolha for boa, você vai acabar
bem. Se ela não for boa, acaba mal! Quem vem pro gospel
achando que vai ser fácil, tem que entender o seguinte:
tudo na vida tem um preço e com Deus não é
diferente! Ele pagou um preço por nós (e foi o mais
alto de todos!), então tudo que você tiver que passar
pra chegar em qualquer lugar junto com Ele, ainda é pouco
perto do que Jesus passou! Eu paguei um preço pra tá
aqui hoje e não me arrependo, porque se tivesse que passar
por tudo de novo, eu pagaria novamente! Vale à pena! Se
você fizer sua parte, Deus faz a dEle! Ou melhor, Deus faz
a dEle sempre, até mesmo quando a gente não faz
a nossa!
PCG-
Está havendo um intercâmbio entre o DJ Alpiste e
os rappers do gospel americano. O quê ambos visam através
desse contato?
DJA- A primeira coisa é eu poder aprender
com eles aquilo que eu não sei. A Segunda, é passar
aqui que eu vivi, ou seja, trocar experiências. Durante
essas minhas idas e vindas aos EUA, eu descobri que é muito
importante você aprender o que o cara tá falando
pra você não se deixar enganar. Tem muitos artistas
que a gente gosta no rap sem entender o que ele tá falando.
Eu ouvi a minha vida inteira NWA e achava o máximo; quando
eu descobri o que os caras falavam nas letras, eu falei: é
muito ruim! É um lixo! Não dá pra negar o
talento do Snoop Dogg, mas que ele só fala porcaria não
tem como você negar, a menos que você não saiba
inglês. Mas como Deus perdoa o tempo da ignorância,
eu também sou capaz de perdoar aqueles que não conseguem,
não sabem ou não querem entender o inglês.
E hoje não tem desculpa, sabe porquê? Tá cheio
de letra traduzida na internet, e se o cara quiser, ele entra
num site de letras traduzidas e baixa a música que ele
gosta e não precisa fazer necessariamente um curso de inglês
ou morar nos EUA pra entender o que ali tá falando. É
muito melhor você fazer isso do que rebolar sem saber o
que esse cara tá falando... Voltando ao meu caso, meu contato
com os rappers do gospel internacional, é fazer novas amizades;
saber que Deus te leva a outros lugares aonde você vai conhecer
pessoas que vão se tornar importantes pra sua vida, e que
mesmo morando em outro país, você vai tornar útil
à ela e vice-versa.
PCG-
O Alpiste poderia citar uma experiência que marcou sua carreira
no sentido de conversão de um espectador do seu show à
Palavra de Deus?
DJA- Já aconteceu inclusive situações
de eu não tá bem nem comigo e nem com Deus, e subir
no palco e dizer: o quê eu tô fazendo aqui? Não
tô preparado pra cantar! Não tô preparado pra
pregar! Mas mesmo assim, Deus me usou pra salvar a vida de um
monte de gente! A coisa mais chocante, têm várias,
mas uma que veio na minha cabeça agora, foi a vez que eu
fui tocar em Sorocaba, numa igreja bem pequenininha, aonde não
tinha quase palco e a igreja tava lotada (porque as pequenas são
as que mais lotam), e tinham alguns meninos de rua lá,
que tinham acabado de sair da FEBEM e a igreja tava tomando conta
deles... Eu cantei, dei o meu testemunho, vários deles
aceitaram a Jesus e eu fui embora. Passou alguns anos, uns 3 anos
mais ou menos, eu voltei em Sorocaba pra cantar em outro lugar,
e chegou um rapaz (já quase um homem feito) e disse: você
não lembra de mim, mas eu sou aquele menino de rua que
tava naquela igrejinha... e eu aceitei a Jesus naquele dia e hoje
eu sou pastor! Então, você ouve um negócio
desse e aí você fala: não tem dinheiro no
mundo que pague esse prazer de resgatar vidas pra Cristo!
PCG-
E o vídeo clipe? O Alpiste está há mais de
uma década no rap e ainda não lançou nenhum.
Porquê?
DJA- Tudo a seu tempo, eu já desejei muito
fazer um clipe (até pro próprio ego). Hoje eu percebo
que a minha carreira andou muito bem sem clipe, então isso
me provou que eu não preciso dele pra minha carreira andar.
O clipe é bom? É! Os fãs sempre vão
achar bom assistir um clipe do seu artista preferido, e pensando
também nos fãs foi que a gente gravou um DVD –
que é melhor que um clipe, porque no DVD você tem
todas as faixas. Além das faixas do CD, no DVD você
vai encontrar faixas bônus, backstage, making off do show,
viagens minhas aos EUA, minha casa com meus filhos, ou seja, é
um presente meu para meus fãs que ficaram esperando esse
tempo todo o clipe e não tiveram! Isso não quer
dizer que a idéia do clipe tá descartada, é
que hoje não dá pra fazer um clipe meia-boca. As
pessoas esperam muito de mim. A gente tem que ter condições
de, depois que sair esse DVD, fazer um clipe bala pra alegria
dos fãs.
PCG-
Agenda 2005, como está?
DJA- Eu tô vivendo um momento muito bom,
minha vontade é aprender mais a Palavra de Deus, ser um
pastor e me envolver ainda mais com meu trabalho. Eu tenho um
convite pra apresentar o meu trabalho na Inglaterra, tenho também
o do Japão até o fim do ano (e tá quase certo);
eu tenho o desejo de ir à Moçambique, porque eu
sei que o CD é bem tocado lá e a África é
o sonho de todo mundo que tem o sangue missionário na veia.
Tenho notícias que em Portugal o CD tá sendo bem
executado e eu vejo que Deus tá abrindo as portas. Ainda
quero ver se visito Israel com a família, mais pra dar
um rolê e sentir o cheiro do local em que Jesus passou...
É isso!
Saiba mais:
Programa
Rap Gospel- Todas segundas, das 22h às 00h (Manchete Gospel-SP/
91,3 FM) e das 22h às 23h (Manchete Gospel-RJ/ 107,9 FM),
a cargo de DJ Alpiste e X Barão.
www.djalpiste.supergospel.com.br
www.centralgospel.com.br
www.gospelrecords.com
Shows:
Fone-
(11) 9880-8675
E-mail- djalpiste@yahoo.com
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