Ela é sulista e em 1992 envolveu-se com o hip-hop, período
em que trabalhava como gerente de um hotel em uma das cidades da
grande Poá. Formada em administração de hotéis,
pouco a pouco graduação seria aproveita para outros
fins. E foi assim que tudo começou: ao assistir uma apresentação
num barzinho underground de um grupo conhecido como “S of
G” (hoje “Da Guedes”), contagiou-se com todo aquele
clima... Em 1993, mudou-se para Poá e fez a sua primeira
participação na produção na “Festa
do Disco”, na Serra Gaúcha, evento cujas gravadoras
apresentavam seus artistas. Por ser uma das organizadoras, além
de incluir o S of G na programação que contava com
os shows de “P. MC” e “Thaíde & DJ
Hum”, após uma breve conversa, conseguiu ali mesmo
o aval da dupla para representá-los como empresária.
À partir daí trabalhou na gravadora Trama e apresentou
o S of G, já rebatizado como “Da Guedes” ao grande
produtor “Miranda”, que de pronto assinou contrato com
estes. Dois anos depois passou a dedicar-se a outros trabalhos:
“Projeto Trocando Idéia, documentários, oficinas
de alimentação” (correspondendo a sua formação
em hotelaria na área de alimento e bebidas), etc... Atualmente
escreve projetos apresentando um vasto conhecimento sobre as leis
de incentivo, atendendo ONGs na prescrição de projetos.
Eu lhes apresento “Fabiana Menini”. E para quem pensa
que a pouca (infelizmente) presença feminina no hip-hop tem
sua ação inibida por este fato, Fabiana pode ser considerada
uma prova viva que as mulheres podem e devem atuar em setores ainda
inexplorados por muito homens do movimento...
TR.
Portal Campo Grande- Porque o hip-hop, já que você
possuía um bom emprego e ainda voltado para sua área
de formação?
Fabiana Menini- Desde antes da universidade, desde
guria, trabalhei em eventos, fiz hotelaria pra atuar na área
de eventos, me especializei em Alimentos & Bebidas. E sou ativista,
quando conheci a ação cultural do hip-hop, isso foi
em 92/93, aos poucos fui deixando a hotelaria, e continuei na produção,
criação, execução de eventos, e é
o que estou fazendo desdaí .
PCG-
Pelo fato de ser mulher, neste período houve alguma objeção
por parte do movimento a sua integração?
FM- Nos anos 90 haviam mais mulheres atuando
no hip-hop aqui em Porto Alegre, rappers principalmente, e que
faziam até festas só com rap feminino, tinha cena
feminina, que agora não tem. Elas sofriam mais, estavam
no palco. Hoje esta pior, a “onda pimp”; a mercadoria
mulher reforçou a idéia que mulher de verdade são
a mãe e coitada que fica em casa cuidando dos filhos e
lavando roupa. É uma luta constante, as mulheres não
são respeitadas.
PCG-
E a relação com o “Da Guedes”, como
era?
FM- Era contratual: eu fui agente deles, empresária
e produtora executiva do primeiro disco. E nos mais ou menos três
anos que trabalhei pra eles, me aproximei mais das gravadoras,
conheci este mundo, e fiz divulgação em Poá
dos produtos de rap da Eldorado, Atração e Trama.
Aliás fui convidada pelo Baze pra ser empresária
deles quando estava trabalhando na Festa do Disco em Canela, um
evento das gravadoras de lançamento e apresentação
de produtos, onde tive a oportunidade de indicar eles pro palco
onde estavam Thaide e DJ Hum, Sampa Crew e PMC.
PCG-
Como você observa o hip-hop nacional em relação
a condição feminina em seu meio?
PCG- Tá mais difícil hoje pras
mulheres atuarem no hip-hop, a onda do rap atual estadunidense,
está aqui também e com toda força, mas temos
grandes guerreiras , e que têm apoio de muitos homens o
que é importante.
PCG-
E o hip-hop na sua própria mídia, como a Fabiana
vê sua representação nos meios de comunicação?
FM- Estamos bem representados na Internet, tem
gente muito atenta escrevendo: Def Yuri, Noise D, a Rúbia...
O hip-hop tem uma boa produção de revistas. As de
graffiti estão com muita qualidade. O jornal Estação
Hip-hop faz 8 anos, com distribuição nacional; um
exemplo de militância do Adunias. No rádio tem um
movimento se renovando, junto aos programas de rap nas rádios
comunitárias tem o movimento das rádios livres de
hip-hop. E a produção literária, é
simbólica , precisamos de mais uns Ferrez, Buzzos...Com
as políticas de inclusão digital, os telecentros
, o acesso a e-mails, a mensagem instantânea... O hip-hop
se apropriou e está muito bem representado nos blogs e
nas comunidades na “www” , aproximando experiências
e possibilitando produções coletivas.
PCG-
E o “Trocando Idéia”, fale-nos um pouco sobre
este trabalho...
FM- O encontro Trocando Idéia começou
em abril de 1999, já teve 8 edições em Poá;
3 no interior do RS e estivemos em Recife em 2003 e em São
Luís em 2005. Este ano teve edição especial
no Fórum Social Mundial, foram 11 atividades, 6 países
e 12 estados brasileiros. No Trocando, temos oficinas de comunicação
rádio, fanzine, de produção musical, de dj,
de dança, encontro de ativistas, mulheres, campanhas de
saúde , discutimos meio ambiente e política cultural,
e é claro, o espetáculo do hip-hop, campeonato de
dança, shows de rap e graffiti na rua... e já teve
até campeonato de futebol, onde o Cálice Sagrado
–time do professor Pablo, Lito Atalaia e convidados –
fez a final contra o time Copo Descartável que era Gato
Congelado, Lumbriga , Nápoli e outros.
PCG-
Você é uma expert em projetos ligados à “Lei
de incentivo”. Existe algum que lhe surpreendeu muito ao
longo desse tempo?
FM- Te digo que foi a necessidade que me levou
a estudar as leis, e escrever projetos. O que me surpreende sempre,
é que os governos e as grandes empresas financiem seus
próprios projetos através das leis .
PCG-
Quais são os planos da “Fabiana Menini” para
o futuro?
FM- Educar meu filho pra ser um ser humano legal,
e realizar um novo projeto chamado JAM.
PCG-
Um recado para as mulheres do movimento...
FM- Boa sorte à todas, porque mulher do
hip-hop hoje tem de ter "pegada". Uma grande força
para Rúbia, Biba, Marcela TPM, Mara, Ângela lá
de Campinas, a Ana Paula de Rio Preto, Negaativas, Célia
Sampaio, Paulíssima, Carla, Sabrina da Zombando Crew. E
que todas consigam agregar mais e mais pessoas pra nossa luta
de igualdade de direitos e oportunidades.
Saiba
mais:
fabiana_menini@yahoo.com
www.trocandoideia.org