A história desses rappers começa no ano de 1994, na
1a Igreja Batista de Vila da Penha: três irmãos se
organizaram para fazer do rap o veículo de conscientização
aos jovens infratores do Instituto Padre Severino, no bairro de
Quintino (zona norte). Associados à extinta ATCON (Associação
Atitude Consciente), entidade responsável por amparar os
artistas do hip-hop carioca, eles foram identificados como os precursores
do estilo gospel no Rio de Janeiro. Muitas foram as modificações
internas ao longo desses 10 anos de existência, fato que resultou
a formação final nas pessoas de “OSK”
e “DJ W”. Juntos, eles formam o grupo “REP”
(Radicalizando – Evangelizando – Politizando). Respeitados
tanto no meio gospel, quanto secular, o REP aposta no sucesso do
single “Mão Pra Cima” enquanto não conclui
a produção do álbum independente “Proceder”.
Conheça agora o depoimento contundente de quem faz jus ao
pioneirismo do rap gospel carioca...
TR.
Portal
Campo Grande- Como foi o seu primeiro contato com o rap?
OSK- Conheci o rap através de uma tia
que retornava dos E.U.A e trouxe vários CDs do gênero,
inclusive os pioneiros do gênero no Gospel: DC Talk e D.O.C.
Mais tarde conhecendo TR e o Frio Bira, é que vim entender
o sentido do rap, conhecer a cultura hip-hop e me aprofundar de
verdade.
PCG-
O REP veio de uma época em que muitas igrejas abominavam
o desconhecido. Pelo fato de vocês serem os pioneiros do
estilo gospel no Rio, houve em algum momento algum empecilho por
parte de seu pastor no desenvolvimento do seu trabalho?
OSK- Houve e muito. Pra você ter uma idéia
eu nunca me apresentei na igreja que éramos membros quando
começamos. Mas graças a Deus fomos muito ajudados
por um dos pastores da Igreja, o Pastor Selmo Reis, carinhosamente
chamado por nós como "Pastor Black". Já
passamos por situações de pedirem para não
cantarmos mais porque não estava agradando, ou o pastor
local ironizar o que fazíamos ao invés de nos apoiar.
Passamos por muitas coisas, mas com apoio de Deus e muita oração
superamos essas dificuldades.
PCG- E hoje, como está essa relação
das igrejas cariocas com os grupos de rap?
OSK- Há uma parcela tradicional que ainda
torce o nariz. Pode-se dizer que 70 % das igrejas aceitam o rap
como forma de evangelismo e louvor a Deus sem problemas. A sociedade
cristã aceita muito mais hoje do que antes, ainda mais
com a força que os negros e sua cultura representam dentro
das igrejas.
PCG-
O OSK é também um dos produtores da festa black
Gospel Beat. Fale um pouco sobre.
OSK- Foi algo posto por Deus em nosso coração
para acolher todos aqueles que curtem black music gospel e não
têm aonde se reunir para curtir o som. Temos dois objetivos
básicos: Espiritual e Profissional.
Espiritual:
é simplesmente juntar a galera black para levá-los
a conhecer a Deus, mostrar que ser fiel a Deus não é
sinônimo de "caretice". Que você pode curtir
um bom som, uma boa musica e que gente bonita também ama
a Deus.
Profissional:
criar uma cena black gospel no Rio de Janeiro. Não temos
grandes pretensões. Queremos apenas fazer nossa parte.
Identificar talentos, criar oportunidades de eventos e shows.
Contribuir para que a cena aconteça e se fortaleça.
PCG-
Mudando um pouco o curso da conversa: no início desse mês,
o Projeto Vida Nova de Irajá promoveu um debate, no qual
você esteve presente como espectador, cujo tema "Hip-hop
– Que Movimento É esse"?, em dado momento discutiu
a relação entre os estilos secular e gospel dividindo
os pontos de vista dos debatedores quanto a presença de
jovens cristãos em eventos seculares e o envolvimento de
rappers cristãos nestes. Como o REP se coloca diante destes
fatos?
OSK- Vamos por partes. Cristo fez a seguinte
oração: “Não peço para que os
tire do mundo, mas os livre do mal”... Em outra passagem
bíblica Ele fala: “Vós sois a luz do mundo”...
e termina dizendo que “nenhuma lâmpada foi feita para
ficar debaixo da cama e sim, no ponto mais alto para iluminar
a todos que estão na casa”. O R.E.P tem a seguinte
postura de viver e agir por objetivos: Acho que os jovens evangélicos
deveriam ir sim nesse tipo de eventos com o objetivo evangelístico.
Com o intuito de salvar ou impactar um amigo. O problema em si
não é o evento, mas a postura que esse jovem terá
lá. O próprio Cristo não andava somente nas
sinagogas ou templos da época, mas sim com as pessoas que
necessitavam ouvir a mensagem de salvação. Ir por
ir, acho que não vale a pena, porque esse jovem corre o
risco de não influenciar e sim ser influenciado. Sobre
tocar nesses eventos, não vejo problema algum, desde que
eu possa fazer meu trabalho completo. Ou seja, falar de Deus e
da mensagem da salvação em dado momento do show.
Ir apenas para fazer o show e ganhar o cachê prefiro ficar
em casa pois não estarei cumprindo a missão que
Deus me deu.
PCG- Agora vamos falar do seu trabalho atual.
Além de rapper você é também produtor
musical e assina com o nome "Visio". Existe uma explicação
específica para essa mudança de identidade?
OSK- Visio é abreviatura de Visionário.
E é o que busco ser quando estou produzindo. Criar músicas
não olhando apenas para o agora, ou seja, o momento que
o rapper está compondo ou colocando a voz. Não me
limito apenas ao momento que sou contratado ou até receber
meu pagamento. Tento ver além; ver o resultado da música
na pista; a reação do público, do dj ao executar,
do artista sendo reconhecido. Porque sem isso meu trabalho seria
em vão. Acho que isso é um dom dado por Deus para
mim, de me fazer ter essa visão, ser um Visionário.
PCG- Atualmente você está produzindo
a bossarap de "Vinícius Terra" e co-produzindo
o trabalho de “Nelboy Dastha Burtha”. Como está
sendo trabalhar simultaneamente com dois conceitos distintos?
OSK - Tem sido um ótimo desafio. Os resultados
têm sido excelentes, diferenciados. Vejo eles atendendo
o objetivo e agradando o público. O desafio com o Vinícius
é fazer músicas para pista com samples de bossa.
Demanda uma pesquisa musical muito grande, casamento de beats
e samples; tem sido ótimo trabalhar com ele! Já
o trabalho do Nelboy leva para outro lado. Ele tem super-idéias!
Cabe a mim fazê-las acontecer criando um paralelo entre
as idéias dele, esmiuçar e transformar em “hit”
sem decepcioná-lo ou fazer que a música perca a
identidade que ele criou. Além do trabalho deles estou
produzindo o trabalho do Dom Negrone e do rapper gospel Fydell.
PCG-
O DJ "W" o acompanha nestas produções?
OSK- Quase sempre. A distância de nossas
residências impede que trabalhemos totalmente em parceria.
Na maioria dos casos eu faço as produções
sozinho. Mas as produções sempre passam pela opinião
dele e quando ele está presente sempre acrescenta e muito.
Como DJ, ele sabe o que o público quer ouvir.
PCG-
E quanto ao álbum do grupo, como está sendo preparado?
OSK- Estamos com oito faixas prontas para um
álbum de 13. Passeamos por todas nossas influências
black e terá a participação do Francisco
J’C, Fydell, R.B e Loco (Manuscritos), Jorginho Cabeção
(ex-REP e Família CDD), Gospel Beat Vozes e Grooves entre
outros.
PCG-
Vocês lançaram o single "Mão Pra Cima",
que já está sendo executado
pelo "DJ Marcelo Araújo" da Manchete FM. Comente
um pouco sobre esta
música.
OSK- Essa música tem uma história
muito interessante. A compus para entrar no álbum de um
rapper gospel carioca chamado Profeta LMC, mas não tivemos
a oportunidade de gravá-la. Ficou na gaveta até
o dia que decidi que incluiríamos no nosso CD. Produzi
o beat, mas o refrão não estava ideal. Foi quando
o DJ “A” sugeriu que eu convidasse o Nelboy para fazê-lo.
Foi o Boom! A música chegou no ponto que queríamos!
Além do DJ Marcelo Araújo, o DJ Boneco está
executando ela na Boate Six.
PCG- O grupo está na cena independente.
É por enquanto ou seria também uma
questão de postura?
OSK- Se uma gravadora que respeite nosso trabalho,
nossa filosofia e não queira apenas explorar, com uma estratégia
de divulgação boa e competente, não seria
hipócrita de dizer que não fecharia o contrato.
Mas hoje é difícil acreditar nas grandes gravadoras.
Os selos independentes mostram que são a saída.
No momento estamos fazendo o caminho mais difícil, fazendo
por nossas próprias forças e principalmente com
a ajuda Divina.
PCG- Muitos rappers têm aderido ao gospel,
o que significa um aumento assustador nos últimos três
anos no Brasil. Isto não seria talvez pelo motivo de muitos
pensarem que o lado de cá é mais promissor que o
lado de lá?
OSK- Alguns podem estar fazendo isso, mas quem
somos nós para julgar. Pelos frutos vamos ver quem é
quem. Cabe a Deus fazer justiça. Espero que eles saibam
bem o que estão fazendo. Fazer gospel não é
apenas cantar ou rimar. É viver! Isso é que fará
a diferença. Quem está vindo para cá a procura
de fama e sucesso, pode até conquistar, mas do que adianta
ter CD de platina se não será aprovado por Deus
e sofrer pela eternidade...?
PCG-
O REP começou assistenciando menores infratores em casas
de recuperação. Neste caso, como vocês observam
este hip-hop de hoje em sua ação social?
OSK- Há ainda alguns poucos heróis
que fazem pelo social, mas em sua grande maioria vejo o hip-hop
se preocupando apenas com o “mainstream”. Na verdade
não acho que o hip-hop tenha essa responsabilidade, mas
sim todos nós como cidadãos. O hip-hop é
uma arma que pode ser usada nesse trabalho, assim como o samba,
o jazz, o esporte. Poucos artistas fazem pelo social, pela sua
comunidade, pelo menor carente ou pelo menor infrator. Acho que
todos deveriam ser um pouco mais atenciosos pela necessidade do
outro e não apenas egoístas. Vejo infelizmente muitos
hipócritas que ficam com esse discurso que estão
no hip-hop para ajudar e tal e depois mudam. Fala-se muito que
a culpa é do governo, dos políticos mas e nós?
O que estamos fazendo? Falar é fácil, agir é
outra história...
Saiba
mais:
OSK-
(21) 3822-2483 / 8862-9578
DJ “W”- 3756-2523 / 8815-9045
www.gospelbeat.com.br
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